quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O Turista

Por estarmos ancorados na Rua da Madalena, artéria essencial da Baixa de Lisboa, somos priveligiados com a visita constante de outras culturas, outras nacionalidades e outros olhares. Muitas vezes entram para pedir indicações, estimulados pelos livros, já que devem pensar que onde há livros, há informação. Uma grata ilacção. Por isso, muitas vezes o Alfarrabista, funciona como posto de informação turística. Em várias línguas. Desde um inglês fluído, a um francês comme ci comme ça, a uma parafernárlia de línguas arraçadas de gestos, qual polícia sinaleiro. E funciona. Que é o que é preciso.
Mas a maior parte não vira logo as costas. Entra. Deambula. Tocam os livros com os olhos na ponta dos dedos. Que é o que se pretende. Lançam olhares aos postais atraídos pelas cores e pela enorme diversidade, e pela busca de algo que nunca tenham visto. E acho, na minha modesta opinião, que sim. Que temos esse algo.
Sentam-se. Alguns cansados de calcorrear Lisboa inteira, outros porque ficam a olhar para as prateleiras com aquele olhar perdido entre os imensos autores e as muitas páginas e palavras da vida. Outros, iniciam conversa. Falam sobre  o sol de Lisboa. Os restaurantes. O eléctrico. Querem levar um pouco de nós nas suas almas e nas suas recordações. E há uns que ficam também na nossa memória. Como o pai de quatro filhos que deixou a esposa e a criançada na casa alugada para vir espreitar o sebo. Que é como se chama um Alfarrabista no Brasil. Entrou. Sentou-se.  Bebeu café. E durante meia hora falou do seu percurso de carro desde Trás-os-Montes até Lisboa. Das cores. Dos cheiros. Da comida. Das gentes. E novamente o Sol. Depois falámos de Fernando Pessoa, dos autores mais contemporâneos e finalmente pediu para lhe indicar 2 livros. Um para si e outro para a mulher de quem me disse estar apaixonado como há 20 anos atrás. Levou um livro de Zola e outro de Françoise Sagan. Voltou no dia seguinte com toda a família. Recebi beijos dos grandes e do pequeno de 4 anos e um abraço da esposa, com um agradecimento em surdina. O Zola que lhe tinham levado, era apenas e só um dos livros que procurava há mais de dois anos no Brasil.
Ainda bem que veio a Portugal. E o Alfarrabista é isto também.

Sem comentários:

Enviar um comentário